Caso Rodin

A ascensão e queda do José de Três Barras

Leandro Belles

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A vida de prestígio e reconhecimento político e profissional teve uma guinada brusca e foi parar em uma escura cela da sede da Polícia Federal de Porto Alegre, em uma manhã quente do dia 6 de novembro de 2007. Preso em casa logo ao amanhecer, José Antonio Fernandes, na época com 61 anos, viu desfazer-se em minutos o reconhecimento construído durante décadas, a partir de sua terra natal, Santa Maria.

Durante os sete dias em que ficou encarcerado, o homem nascido na localidade de Três Barras, no distrito de Arroio Grande, originário de uma família de pequenos agricultores, conhecido por íntimos como Zé, contou ter visto um filme passar em sua cabeça. Apontado pelo Ministério Público Federal como mentor (ou o Pensador) da fraude do Detran, o esquema que teria desviado R$ 44 milhões após fraudes na confecção das carteiras de habilitação, foi condenado, em maio passado, à maior pena entre os 29 condenados: 38 anos e 7 meses de prisão _ ele recorreu.

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Junto dele, os seus dois filhos, Fernando e Ferdinando, também foram condenados. Além disso, vão ter de devolver juntos, todos os condenados, R$ 90 milhões. José Fernandes era dono da Pensant Consultores que segundo a Justiça, liderava um esquema de empresas subcontratadas pela Fatec e pela Fundae para desviar dinheiro do Detran. Jurando inocência durante todo esse período, Zé passou a ser conhecido, no Estado inteiro, como Fernandes.

Mas essa longa caminhada até o que é considerado por ele como "uma sina" teve início ainda entre as décadas de 1970 e 2000. Naquela época, Zé Fernandes era nome presente, e importante, na vida política, social e acadêmica de Santa Maria. Admirado pela inteligência ímpar e, em alguns momentos, invejado pela habilidade em liderar, teve ascensão pessoal impressionante. A dedicação aos estudos, contam amigos, conferiu destaque em todos os espaços que ocupava e garantiu um futuro exitoso ao filho menor de uma família de apenas dois irmãos, criado pela avó materna e por um tio.

Um homem que 'tocava projetos desafiadores'

Até hoje, amigos lembram do homem que "resolvia tudo" e que "tocava projetos desafiadores". Marcado pelo episódio Rodin, Fernandes se afastou de Santa Maria e de muitos amigos. Talvez seja por isso que, hoje, tantos anos depois, muitos deles ainda hesitem em falar sobre ele.

_ Fica complicado falar. Éramos bem próximos. Aí aconteceu aquilo (a prisão) e acabou _ conta um importante nome da sociedade local, fazendo um sinal com as mãos que simulam um desmoronamento.

Formado em Ciências Econômicas pela UFSM, em 1968, Fernandes logo assumiu o protagonismo da área na universidade. Depois dessa experiência profissional em Porto Alegre, onde teve contato mais próximo com a gestão de projetos e com o planejamento, ele retorna à cidade natal e inicia uma carreira promissora.

Em poucos anos, após um mestrado na UFRGS, ocupa cargos de importância na UFSM, como o de pró-reitor e de chefe de departamento. Chegou a concorrer a reitor. A obsessão em planejamento o aproxima da Igreja Católica. Pelas mãos de dom Ivo Lorscheiter, falecido em 2007, começa uma relação profissional e de amizade que culmina com a criação do Projeto Esperança e com um livro, escrito por ele, sobre o religioso.

A entrada na política, também fruto de seus conhecimentos acadêmicos, rende-lhe notoriedade. Foram duas eleições, uma para vice-prefeito, em 1988, e outra para prefeito, em 1992, ambas sem êxito. Antes disso, a entrada no PDT lhe rendeu amizades, como a de Leonel Brizola, e reconhecimento profissional, tendo papel de destaque no trabalhismo gaúcho.

_ Ele era chamado para orientar candidatos, planejar projetos de governo. Era um sábio _ con"

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